quinta-feira, 4 de março de 2010

VISÃO VICIADA

Investe contra mim o leão domado
não me morde, estou dopado.

Um leopardo investe, abre a goela,
súbito vira uma mancha amarela.

As pessoas andam numa rua sem fim,
por mais que andem estão sempre junto a mim.

Há água na rua brilhando ao farol,
um carro passa, espirra ao rol.

Há um enorme cão, late alto
lentamente vira um buraco no asfalto.

Os prédios ao redor são escuros, enormes,
agora são bocas a gritar de fome.

As árvores voam, nuvens sorriem alegres,
incrível: um mar e uma lebre!

Há manchas verdes, azuis, lilases,
viram pássaros e fogem fulgazes.

A paisagem respira serena,
dá sensação de paz e alegria plena.

Olho o infinito e nada vejo,
fico contemplando, nasce e desejo:

quero lançar-me num vôo alto.

Vôo, bato contra uma rocha quebra-cabeça
antes que no mar de todo desapareça.

23.04.85

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