Como falar do anjo e do demônio que existe em cada uma de nós se não sei nem mesmo como falar dos que existem em mim. Ou melhor, não sei nem como lidar com meus serezinhos que me invadem e incomodam. Gostaria de poder agir por mim mesma mas eles estão sempre nos meus ombros, um de cada lado enchendo minha paciência, cutucando minhas ações.
Sempre imagino-me com uma eu diabinho e uma eu anjinho em cada ombro meu e eles me fazem ficar quase doida, por que em cada situação paro e fico à espera de que eles me digam o que fazer, que me orientem. E exatamente aí reside o problema: nunca eles entram num acordo. O anjo sempre quer que eu faça coisas boas e o demônio que eu faça coisas más. Natural até aí.
Mas o demônio fica louco para dar uns sopapos no anjo e fazê-lo rolar pelo meu ombro abaixo para que eu seja má. E o anjo gostaria de anular completamente meus demônios para que eu seja só bondade. E eu gostaria de anulá-los para que eu seja só eu. Mas eu sou eles e eles são eu. E nós três somos eu completa.
E por conta deles dois, anjos e demônios povoam meu ser, demônios loucos que têm rompantes de extravagâncias, de gritos e gestos tresloucados que surpreendem os circunstantes e gestos de amor e bondade que comovem até a mim mesmo, fazendo a alma flutuar leve para além das fronteiras do desconhecido.
Eles estão nas minhas revoltas, quando quero explodir alguém ou algo e nestas horas sei que meu demônio está á tona de meu ser. E estão nos meus momentos em que a estrada parece forrada de flocos de algodão por que fiz algo de bom e o corpo está leve e a vida colorida. Aí sei que meu anjo está me envolvendo com asas de perdão e de eternidade.