terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tecelã

Teço meus versos com as linhas
que o tempo joga em minhas mãos,
com os fatos que a vida joga em meu cotidiano.
E enlaço nos laços
sentimentos ocultos – ou explícitos -,
emoções contidas – ou vazadas.
Teço meus versos na tela dos sonhos,
crio em meus versos
um mundo mais novo,
um verso em reverso.
Teço meus versos em tecido de dor,
em tecido de amor.
Tecidos meus versos,
tecida está a vida.

18/10/94

A vida

De que vale a chuva caindo,
matreira correndo em minúsculos regatos
entre as pedras da calçada?

De que vale o sol dourando as flores,
refletindo em gotas de orvalhos
que cobrem arbustos à beira do caminho?

De que vale o vento soprando leve
e agitando bandeiras tremulantes
ou galhos de árvores refrescantes?

De que vale o dia que nasce radiante,
a noite que chega serena,
a lua que esparrama prata nos montes?

De que valem crianças correndo,
em festa na grama do parque,
em gritos no recreio da escola?

De que vale se a vida que passa,
que passa e vai se esvaindo
não tem a presença maior,
não tem a sua presença,
só é feita de ausência e de dor?

Manhã

Além da minha janela
sabiás acordam o amanhecer.
Fazem festa, trinam e saltitam.
O sol – astro-rei
rebrilha nas teias de aranha
rendadas nos galhos de arbusto.
O vento balança as rosas
lançando um aroma sutil
e a relva molhada exala
um cheiro de natureza.
que impregna a manhã.

Além da minha vidraça
a vida fazendo festa
amanhece o dia que é novo,
que se faz novo de novo.
A esperança matreira
se enrosca em cada ruído.
Respiro renascer,
encho de vida meu ser.
Aurora - mágico momento.
Esquecida, encoberta pela lide diária.
Privilégio de quem tem olhos de ver
entre arbustos de rotina apressada.